Um Dia Seria o Bastante

Só aquela suja e surrada boneca existiu pra mim naquele momento. Ali, no canto de um de tantos bancos vazios de madeira que havia naquele lugar tão frio quanto cinza, ela ficou abandonada e invisível pra todos. Menos pra mim, que fiquei com os olhos secos de tanto encará-la.
Sem piscar mesmo, vi nela todos aqueles anos e todas aquelas lágrimas. Tão silenciosas como ela. Eu, que durante tanto tempo não há tirava dos braços quase que nem na hora de tomar banho, naquele instante percebi que ela era um símbolo da minha solidão e minha resignação.
Sempre pensei que um dia ela iria se levantar e dizer algo revelador a mim, que sempre confidenciei a ela segredos de meninas. Minha Mãe, no exato minuto em que costurava em sua face de pano seus olhos de botão azul, me disse que quando não estivesse por perto seria a boneca quem rezaria por mim.
Longos e loiros cabelos cacheados. Como se girassóis estivessem entrelaçados em cada fio.  Minha Mãe parecia caminhar como se flutuasse com os anjos. Como aquele que ela dizia morar e cuidar do nosso jardim. Seus lírios e orquídeas eram tão luminosos que me convenceram dos cuidados do ser celestial. Acho que me lembro de todos... todos os dias em que eu me sentava, com aquela boneca junto ao peito, embaixo do ipê para ouvir tocar docemente sua flauta. Certa vez li em um livro da biblioteca da escola que as fadas se transformavam em libélulas para voar por entre os humanos quando estes faziam algo que as agradasse. Mas será que fadas e anjos poderiam viver harmoniosamente? Sim, no jardim da minha Mãe eles podiam.
O som que saia daquele instrumento prateado era tão inebriante que até os pássaros do jardim se assentavam para ouvi-la tocar. E eu, mesmo quando ela se levantava e saia, continuava ali a imaginar como o mundo todo, pra mim, poderia se resumir aquele lugar. Estranhamente, no jardim eu me sentia segura. E todas as palavras que insistiam em não sair de meus lábios no mundo lá fora, ali não precisavam existir. Cada pétala de lírio e cada gota de chuva entendiam que eu só queria ser como elas; e escutar as canções de minha Mãe, e servir de modelo para suas telas croquis. Queria poder ficar ali e esperar que ele chegue pra me banhar com seu regador tão vermelho, e nada mais.
Lembro-me de quando após uma consulta ela me disse que eu não era doente. Que era apenas uma menina que tinha um coração tão grande que caberia um mundo inteiro, e que às vezes eu poderia me perder neste mundo. E aquele lugar tão claro, com grandes torres quadradas e pequenas janelas, no alto de uma colina gramada e com pessoas tão sorridentes; também não parecia um hospital. Talvez ela estivesse certa. E afinal eu realmente não me sentia doente. Só não queria fazer parte deste mundo que me parecia tão hostil e indiferente. Para uma menina de 10 anos, o mundo se resume mesmo ao ambiente no que ela vive. E já que era minha Mãe quem me ensinou as operações básicas da matemática, as leis fundamentais da física e a ler as obras relevantes da literatura clássica, o que do mundo eu conhecia era a leveza e clareza que minha Mãe tecia sobre eu e meus dois irmãos, e a estupidez arrogante “dele”; meu pai.
Gabriel, meu irmão mais velho, parecia prever a tempestade. Com os olhos tão profundos quanto o azul do céu, ele manteve a brandura que pairava sobre o jardim com imensa altivez. Era o elemento guerreiro que havia na alma de minha Mãe. Sempre justo e honroso em suas atitudes me dizia sempre:
_Seja sempre atenta minha Irmã. Mesmo que permaneça eternamente dentro deste jardim, um dia, o mundo lá fora vai cobrar algo de você. E lembre-se: não permita que as pessoas te digam em que acreditar ou quebrem seus sonhos.
Sem surpresa, ele e meu pai não mantinham uma relação amigável. Nunca os vi em situações alegres ou tranqüilas. Meu pai mandava, Gabriel obedecia e pronto. Não me recordo de ouvir Gabriel bem dizer seu nome ou confessar alguma saudade já que o emprego na empresa de petróleo o mantinha seis meses por ano afastado de nós. E nos outros meses em que ele estava em casa presenciávamos uma nada mais que suas bebedeiras de vodka e churrascos com aqueles amigos estranhos que me lançavam olhares vazios e constrangedores.
Minha Mãe, nestes períodos, era só silencio e solidão. Nem sua flauta se podia ouvir quando ele estava em casa. Como se sua altivez não pudesse estar presente no mesmo ambiente em que ele se encontrava. Eu me perguntava a todo instante se seria normal nós, sua família, sermos mais felizes na sua ausência. Recordo-me da ocasião em que ele teve um desmaio induzido pelo excesso de álcool em que eu, na inocência de minha pouca idade, acreditei que estivesse morto e me pus a pensar em como seria aquele momento de despedidas e no resto de nossas vidas sem ele. Bom, aqui estamos e, mesmo com tanta indiferença, sinto que as coisas não precisavam ser assim.
Parentes e pessoas estranhas ia chegando e se aglomerando nos pontos do pátio onde o sol conseguia atravessar as copas daquelas árvores enormes que se entortavam e gemiam ao sabor do vento. Parece que não estavam ali a fim de se confortarem ao se despedirem. Só queriam mesmo saber dos detalhes e motivos que tornavam aquela tragédia infreqüente dentre todas que nos assolam cotidianamente.
O povo da TV chegando com aquelas caras de satisfação de ter nas mãos uma grande notícia, contando piadinhas de escritório e sorrindo, me fez pensar que a indiferença não era um sentimento exclusivo a mim. Bom, talvez não soubessem de tudo que se passou a mim. Talvez realmente não se importassem.
Um velório vazio e sem lágrimas. Meu pai definitivamente não priorizou em sua vida os laços afetivos. Só então comecei a entender melhor o que senti naquela hora em que, do banheiro, ouvi aqueles gritos. Inexplicavelmente eu suspirei como nunca na vida, como se algo estivesse saindo de dentro do meu peito.
Saindo do banheiro, enquanto até eles corria ainda quase nua, pensei que mais uma vez me via envolta em incertezas e muito longe da serenidade que minha mãe sempre recomendava como essencial pra se viver. Quando vi Gabriel e Dan, meu irmão do meio, açoitando com chutes e mais chutes aquele homem que também tanto os maltratou, percebi que não estava sozinha. E só ali eu percebi.
 Juro que não tive forças para tentar impedir aquilo, mas minha cabeça começou a girar em um lugar tão escuro que mal consegui perceber os vislumbres que tive sobre o futuro, sobre o que eu teria pela frente pra enfrentar e que poderia me fazer sorrir.
Quando meus irmãos enfim conseguiram, com muita persistência e a custo do sangue que lhes escorria por sobre a face expulsar da casa meu pai, aquele homem que me observava sorrateiramente no banho, Gabriel veio até mim dizendo coisas que me soavam como que aflitas mesmo que não pudera ouvir sua voz. E ao me sacudir firmemente ele me desfaleceu.
Parece que tive um sonho sobre estradas e luzes que passavam muito rápido; não me senti desperta, mas só consegui ter a consciência de que precisava manter os joelhos firmes quando percebi que chegara ao hospital no centro da cidade, Gabriel já havia desaparecido naquele instante. Não senti mais sua presença entre nós. Senti medo de não vê-lo mais. Mas Gabriel era daqueles que sempre chega até o fim. E ele devia estar indo para algum lugar. Só precisava descobrir o que ele procurava e do que fugia. Compreendi seu isolamento. Apesar de eu não concordar com a sua responsabilização pelo suicídio de meu pai, o que se passou foi melancólico demais até para Gabriel.
E o pior é pensar no quanto podemos ser desumanos. E me lembrar de quanta barbaridade e quanta podridão podemos amontoar sobre nossas cabeças e nossas mãos.
Perceba como nos fascina a violência e acidentes sangrentos. Como os genocídios e tragédias estão tão arraigados a nossa historia e nossa alma.
Tenho medo agora. Ao descobrir que o amor não é um sentimento assim tão nobre, e pode sim se transformar em desprezo absoluto ou algo abundantemente cruel, destrutivo e feroz. Só então pareço perceber a gloriosa responsabilidade que temos sobre a vida dos outros ao nosso redor, sobre suas escolhas, seus erros e acertos. E me lembro então do que é cansaço, solidão e do gosto do fel.
E então rezo para que eu possa ter a chance de continuar tentando ser um tanto justa, prudente e constante. Peço a Deus a todo instante, não permita que eu possa, assim por uma atitude tão miserável, perder a esperança em mim, nas pessoas, na virtude e na leveza que a vida pode ter. Sei que precisamos às vezes de tombos para despertar de sonos bem profundos. Mas é que existem abismos profundos demais, monstros famintos e corações tão negros quanto um lamaçal escuro e frio.
Olho para a boneca novamente, e guardo esta imagem então. Pois daqui até a eternidade, estará em mim esta certeza. De que todos podem errar, mas existem pecados incomensuravelmente mais abomináveis que outros. Doenças que não têm cura e feridas que não se fecham nunca. E que Deus poça perdoar todo o horror e decepção que deixo envolver meu coração neste momento.         

Fim

 

 

"Ainda sem título"

Logo após sair da clinica psiquiátrica, Claus sabia que o trabalho seria oque mais lhe evitaria pensar em bobagens. O laudo médico apontava surto de pânico agudo com perda parcial de memória e lhe dava plena habilitação para exercer a profissão que tanto amava.
Após o contato de Mauricio, o antigo parceiro nas campanhas investigativas para o jornal Extra Notícia, descobriu que uma grande rede de comunicação procurava novos talentos na produção de documentários para a tv a cabo e abriria um concurso com o tema “Lendas Urbanas”.
Quando fizeram a inscrição, Claus ainda não sabia bem o que estava fazendo. Afinal ainda existia um grande lapso em sua consciência. Sua última lembrança era de uma viagem a negócios que teoricamente fizera. Um taxi, o aeroporto, e uma sessão de páginas em branco. Um branco total e Claus só se lembrava de acordar no hospital central de Belo Horizonte e de ser levado para a clínica psiquiatra para começar o tratamento.
Mauricio, empolgado com a ideia de retomar a parceria com o velho colega de profissão, pesquisava assuntos potenciais para o projeto. Estava apreensivo com a situação do amigo, mas confiava nas instruções do médico que desde a época do surto acompanhava Claus.
Na segunda-feira, durante uma reunião com Mauricio para decidir o assunto a ser abordado no documentário, Claus se levantou da poltrona de couro verde onde, disperso, não ouvia o que Mauricio dizia e caminhou até a janela de madeira que dava para uma grande área verde na zona sul da cidade. Depois de alguns instantes observando o infinito percebeu uma mulher a caminhar lentamente pelas árvores. Algumas crianças andavam de bicicleta e cachorros brincavam com seus donos. Mas Claus não conseguia desprender sua atenção da mulher. Tinha longos cabelos negros, um vestido muito branco que parecia ser de um tecido bem leve e uma espécie e vel que lhe cobria parcialmente o rosto.  Aos ouvidos de Claus, um imenso silencio se fazia enquanto a mulher sumia por entre os eucaliptos e pinos daquela pequena floresta.  Quando ela sumiu, Claus se agitou e disse com convicção:
_”A mulher de branco!”
_”O que? Mas esta estória é meio infantil Claus”. Indagou Mauricio.
_”Mauricio, desde criança escutamos estórias sobre a tal “Muler de branco. Essas estórias existem em todas as partes do país e atravessam gerações. Não vejo outro exemplo melhor de lenda urbana e além do mais tenho um estranho pressentimento sobre isso.
Mauricio tentou argumentar contra a ideia mas Claus se mostrou irredutível perante sua intuição. Mauricio exageradamente se mostrou tenso, mas sucumbiu a argumentação do amigo em recuperação de um surto psiquiátrico.
Resolveram então começar com os relatos locais. Descobriram a lenda de uma mulher que morrera em um acidente na BR 381 e rumaram para a cidade de Caeté. Durante a viagem Claus sonhou com uma praça e uma igreja. Sentado em um banco de concreto ele namorava aos abraços e beijos alguém quem ele não podia ver o rosto, quem ele não conseguiu identificar.
Ao chegarem no pequeno hotel perceberam que a recepcionista, uma senhora com feições indígenas e longos cabelos brancos, possuía o corpo quase todo tatuado. O que lhes causou certa estranheza. Durante o preenchimento da ficha Claus comentou sobre as tatuagens e a senhora, com, sotaque, disse que eram símbolos sagrados da antiga civilização Maia. Disse que era mexicana e viera para o Brasil por problemas políticos em seu país.
Entraram para deixar bagagem e logo saíram em busca de informação. Ouviram de pessoas na praça e na zona rural os depoimentos triviais sobre a lenda. Que o tal fantasma seria uma noiva recém-casada e que morrera por questão ligada a traição do marido. Suicídio, depressão ou assassinada por ele. Em alguns casos os dois filhos do casal também são envolvidos na tragédia. Escutaram relatos de pessoas de outros estados contando que em suas cidades a mulher de branco morrera pelos mesmos motivos. Em cada lugar sua estória tomava as proporções do ambiente. Em estradas, houvera um acidente fatal por conta da briga de um casal em lua de mel que descobrira traições. Em banheiros, uma jovem noiva teria se suicidado por ter sido traída e em cemitérios uma noiva que teria sido assassinada no altar pelo noivo traído.
Quando a noite caiu, voltaram para o hotel. Banharam-se e desceram para comer algo. Sentaram-se no único bar da rua do hotel de onde vinha um cheiro do que parecia ser um daqueles suculentos e gordurosos sanduiches de chapa. Enquanto Mauricio comentava sobre os casos. Claus se distrai e tem um flash como se fosse uma lembrança por memória degustativa. Sente um forte gosto de algo que parecia ser uma fruta bem doce na boca e por um instante percebe diante de seus olhos a personagem de seu sonho. Uma figura que o atraia inebriantemente, mas a qual ele não podia enxergar o rosto. Como se alguém houvesse lhe tirado da face os olhos, boca e nariz.
Atordoado Claus pediu licença a Maurício, se sentou em um banco de madeira na faixada suja do hotel e acendeu um cigarro. Olhando para o céu escuro daquela cidade do interior ele teve medo de ainda não estar bem. Pensou na estranheza de ter tido quase de dois anos, desde aquele dia no aeroporto, apagados de sua memoria e ter permanecido em tratamento apenas os últimos 5 meses como comprovava seu registro médico. Tendo sido levado ao hospital por uma pessoa que não se identificou. Claus não sabe onde esteve e o que fez neste tempo.
Interrompendo a melancolia de Claus a senhora recepcionista do hotel se aproxima e pede o isqueiro de Claus para acender um cachimbo de madeira e pergunta o que fazem na cidade.

Continua...

 

 

"Ainda sem título"

31 de agosto de 2131. Estamos prestes a presenciar o acionamento do aparelhamento cientifico mais importante da história do Planeta.
Em meados de 2008 os mais notáveis cientistas, astrônomos e físicos da época se reuniram em uma força tarefa para o desenvolvimento do que seria o maior acelerador de partículas já construído. Com o intuito de estudar a existência de partículas, na época desconhecidas, no núcleo dos átomos e decifrar mistérios da origem e estrutura organizacional do universo, o LHC, Large Hadron Collider, ou, Grande Colisor de Hádrons já era considerado um experimento revolucionário que poderia nos trazer uma evolução tecnológica e do conhecimento sem precedentes.
Com os resultados obtidos nas colisões de prótons, que seriam disparados a uma velocidade próxima á da luz, dentro de um túnel com vinte e sete quilômetros de circunferência e construído a mais de cem metros de profundidade da superfície de Genebra, fronteira entre França e Suíça, nossa sociedade tomou o rumo esperado pelos visionários mais sensatos.
Naquela época tais progressos eram ainda um vislumbre distante. Já que nem a existência das partículas elementares não passava de mera teoria e o modelo atômico que então conhecíamos era composto apenas por elétrons, neutros e prótons. Conceber tomografias com resolução 3D, medicamentos que eletronicamente desobstruíam e reconstituíam artérias danificadas por placas de colesterol e que remediavam precisamente as células cancerígenas, assim como imaginar a total eliminação de fontes de energias poluentes como os combustíveis fósseis e o desenvolvimento dos grandes desintegradores de lixo ainda só era possível ao ler livros de ficção cientifica.
Há meu ver, conhecer os princípios da antimatéria e dominar assim a força gravitacional seria o objetivo mais fascinante atrelado a este projeto, e foi. Como amante da física, da antropologia e das ciências naturais, me ponho a refletir em como os indivíduos daquela época reagiriam ao presenciar em nosso mundo de hoje o que, segundo as descobertas no LHC, mais alterou a paisagem natural antes conhecida: nossos fantásticos complexos arquitetônicos flutuantes e os tão esperados, naquela época, automóveis voadores. Degraus de escadas e toda natureza de objeto manufaturados pelo homem que não mais precisam estar fixados em lugar algum e pairam sobre o espaço vazio, fixos ou móveis.
Hoje nosso mundo se tornou um lugar belo e pacifico. Alem da evolução tecnológica presenciamos também um desenvolvimento no caráter humano. A muito já não existem guerras nem governos corruptos. A Assembléia Global, evolução de uma antiga instituição chamada de Organização das Nações Unidas, substituiu os governos federativos e hoje assegura o cumprimento da Constituição Mundial, com representantes de todas as classes sociais, étnicas e culturais presentes na face da terra. Todas com igual poder de decisão, sem hierarquia ou favorecimentos. Nossas moedas e línguas se fundiram em uma e até nossa raça parece evoluir para um único biótipo terráqueo devido à constante miscigenação entre os povos, observado nos últimos 100 anos.
Recordo-me de quando meus pais me levaram pela primeira vez a uma das Estações de Historia Natural. Aos sete anos de idade quase acreditei em mágica quando me deparei com gigantescos e assustadores répteis os quais meus pais diziam terem sido extintos a milhões de anos e os cientistas modernos conseguiram revive-los. A engenharia genética havia conseguido trazer do passado pré-histórico todo tipo de animais e plantas que nestas espécies de parques contrastavam com as hipnotizantes Fotofloriferas. Espécie de vegetação luminescente. Florestas inteiras, geneticamente combinadas com proteínas de seres orgânicos abissais, que iluminavam noites escuras em tons variados de todas as cores florais. Puro capricho e vaidade humana.
A inauguração do LHC a mais de 120 anos iniciou uma nova era para nosso povo. Uma era de transformações que marcaram nossa história de forma tão definitiva quanto inimaginável até então. A mais ou menos uns 9 meses, uma sonda espacial utilizada para pesquisa de recursos minerais detectou uma massa colossal traçando uma órbita no mínimo suspeita. Vários profetas surgiram, profecias enterradas a milhares de anos ressurgiram e até causaram algum caos no começo. O fato é que, como alguns cálculos da Companhia Espacial já previam, um estranho campo magnético começou a causar interferência em todo e qualquer tipo de aparelho que utilizasse ondas de rádio. Diariamente os noticiários anunciavam novos danos. Já existiam ocorridos de cidades totalmente sem energia e prédios flutuantes que simplesmente despencaram do céu provocando milhares de mortes.
Pressionado pela opinião publica, a Companhia Espacial anunciou a alguns dias uma noticia que ainda não foi assimilada com clareza pela maioria da população e não acreditada pela outra parte. “Temos uma chance!” Pensou-se que poderia ser mais um manifesto dos Cyberpunks, hackers idealistas que utilizavam a grande rede para disseminar suas ideias libertarias e libertinas. Mas não, “o LHC poderia ser usado como uma arma”, extraordinariamente anunciavam as notícias.
Em meio ao crescente caos provocado pelo campo magnético da Estrela Negra que se aproximava de nosso sistema solar a uma velocidade superior a do som, repórteres e otimistas com seus equipamentos antigos não afetados tentavam buscar informações sobre o fato que parecia ser, neste momento em que quase um terço dos habitantes do nosso planeta haviam sido mortos pelos desastres causados pelas panes eletrônicas, nossa única saída. Em nossa sociedade onde quase tudo era controlado por supercomputadores, os sistemas de transporte coletivo e GPS provocaram verdadeiros desastres. Parece-me que durante o desenvolvimento do LHC os cientistas descobriram que os Handrons podiam sim ser controlados e um disparo de uma carga consideravelmente elevada poderia alcançar o alvo a uma distancia segura ou menos desastrosa.
Um andarilho me contou uma estória interessante. Ele disse que desde o inicio do planejamento do LHC, O Grande Colisor de Handrons, a verdadeira intenção de sua construção era a destruição desse imenso fragmento da explosão de uma gigante vermelha distante e que as descobertas cientificas ocorridas foram meramente ocasionais.  Pra mim que a 2 anos vivia em um mundo onde já não existiam doenças, onde ninguém mais precisava trabalhar para sustentar as necessidades básicas de sobrevivência e só trabalhávamos no desenvolvimento de nossas vocações, hoje como moro em escombros e como carne de animais caçados, já não sei mais em que acreditar. Daqui a um mês e meio irão disparar o LHC. E tem uma coisa que eu, por via das duvidas, quero fazer.

Continua...